Inteligência artificial ajuda a selecionar características desejadas de peixe nativo para criação
Diante de uma rede cheia de pacus (Piaractus mesopotamicus) é impossível distinguir a olho
nu aqueles que terão descendentes com maior rendimento de filé ou que ganharão
peso mais rápido, por exemplo.
Medir com uma fita
métrica o tamanho do corpo de cada um e pesar com uma balança pode dar uma boa
pista, quando esses dados são tabulados e comparados. Criar uma população
inteira com as características desejáveis, porém, exige que sejam medidos e
pesados cerca de 2 mil peixes por geração, algo que pode levar dias.
Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista
(Unesp) apoiados pela
FAPESP acabam de solucionar esse problema com o desenvolvimento de um software
que usa inteligência artificial para fazer medições precisas em tempo real.
Os resultados foram publicados na
revista Aquaculture.
O objetivo do grupo é obter populações melhoradas
desse peixe nativo, aumentando a produtividade e barateando o produto (leia mais em: agencia.fapesp.br/35144/).
“A medição manual limita a obtenção de dados, uma
vez que estressa os peixes, pode transmitir doenças e levar a surtos, além de
tomar um tempo precioso. Automatizamos o processo treinando a máquina com fotos
dos pacus e indicando o que é cabeça, corpo, pelve e nadadeiras. Temos agora um
dispositivo portátil que pode ser levado a campo e faz isso rapidamente,
classificando os melhores animais”, esclarece Diogo Hashimoto,
professor do Centro de Aquicultura da Unesp (Caunesp), em Jaboticabal.
Os pesquisadores usaram a tecnologia conhecida
como deep learning, uma técnica de aprendizado de máquina
que, entre outras vantagens, traz resultados com muito mais velocidade.
Os estudos foram conduzidos ainda no âmbito de um
projeto financiado pela empresa Huawei do Brasil Telecomunicações, com a
coordenação de Jose Remo Ferreira Brega,
professor do Departamento de Computação da Faculdade de Ciências da Unesp, em
Bauru, que também assina o artigo.
No estudo, os pesquisadores buscaram diferenciar
pacus redondos dos elípticos. Uma vez que os peixes selvagens costumam ter o
corpo mais arredondado, acredita-se que essa característica possa pesar na
escolha dos consumidores. Para obtê-la, selecionam-se aqueles que tenham uma
relação proporcional entre altura e largura. Com isso, obtém-se ainda um maior
rendimento de lombo e “costela”, como são chamados alguns dos cortes mais
apreciados de peixes nativos como o pacu e o tambaqui (leia mais em: agencia.fapesp.br/37902/).
Outras relações
entre as medidas dos peixes, como tamanho da pelve ou proporção entre tamanho
da cabeça e do corpo, podem indicar maior rendimento do filé ou mesmo taxas de
crescimento e ganho de peso, por exemplo.
Peixes melhorados
A melhoria por
meio da seleção genética de características desejáveis pelos produtores,
conhecidas como fenótipos, não é novidade no setor agropecuário brasileiro,
líder mundial na produção de proteína animal advinda de frangos, bois e porcos.
No que diz
respeito à aquicultura, porém, o que existe de tecnologia para melhoramento
está praticamente restrito ao salmão e à tilápia, dois peixes exóticos entre os
mais produzidos no mundo, com a maior parte das inovações realizada no
exterior.
Ainda que o Brasil
tenha uma cadeia produtiva de tilápia que envolva pesquisa e desenvolvimento, o
melhoramento de peixes nativos é bastante incipiente. O software criado pelos
brasileiros, porém, mostrou-se ainda mais eficiente do que o que existe para a
seleção de fenótipos em outros peixes, como a tilápia.
“Nosso programa
pode reconhecer e medir as diferentes partes do pacu mesmo na beira do tanque,
com poluição visual no fundo e condições de luz variáveis. O que já foi
desenvolvido para tilápia utiliza-se de luz controlada e de um fundo padronizado”,
compara Hashimoto.
A sistematização
de fenótipos do pacu em grandes bancos de dados vai permitir selecionar os
animais com mais precisão, potencializando outro trabalho realizado pelo grupo
de Jaboticabal.
Em 2021, os pesquisadores publicaram um
artigo no qual descrevem os chamados polimorfismos de nucleotídeo simples
(SNPs, na sigla em inglês) do pacu e do tambaqui (Colossoma macropomum).
Essas mutações no código genético podem auxiliar no mapeamento genômico de
características desejáveis dos peixes, acelerando a seleção e o melhoramento.
A forma
convencional de medir o rendimento do filé ou do lombo, por exemplo, é
sacrificar o animal e pesar essas partes. Com isso, perde-se o indivíduo e
tem-se apenas seus irmãos, que apesar de muito parecidos geneticamente não
necessariamente vão trazer aquelas características.
“A vantagem do
software integrado com dados genômicos é que podemos coletar as informações e
manter o animal desejado vivo para ser usado como reprodutor durante o processo
de seleção”, aponta Hashimoto.
O artigo High-throughput phenotyping by
deep learning to include body shape in the breeding program of pacu (Piaractus
mesopotamicus) pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0044848622009644.
Fonte : André Julião | Agência FAPESP, de Jaboticabal
Jorge Meneses - Biólogo - (11)998116744 - vivo e whatsapp
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