Família em São Paulo deve fechar 2022 abatendo 50 toneladas de tilápias por dia
Em torno de 65% da tilápia produzida pela
família Amaral é comercializada dentro de São Paulo, outros 35% são enviados
para os Estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Goiás e à
região Nordeste
Do ideal de empreender à
realização de um sonho trilhado em família. É assim que o médico-veterinário
Ramon Amaral descreve em poucas palavras a sua trajetória de sucesso na
piscicultura, ramo que ainda na faculdade despertou seu interesse após realizar
um estágio em uma fazenda de cultivo de peixes na cidade mineira de Poços de
Caldas.
À época
compartilhou com o pai Antonio Carlos Lopes do Amaral (in memoriam) e a família
o seu desejo de ingressar na produção de peixes de cultivo, buscou informações
sobre o mercado e pouco tempo depois surgiu uma oportunidade de processar um
lote na cidade paulista de Santa Fé do Sul, agarrou a oportunidade e um ano
depois de se formar já começava a dar os seus primeiros passos para desbravar
um mundo de possibilidades que estavam postas a sua frente através da produção
de tilápias.
Depois de 15 anos na
atividade, transformou a marca Brazilian Fish, do grupo Ambar Amaral, em
referência nacional, com presença em todos os Estados brasileiros. “Nossa
pretensão era produzir seis toneladas por dia, hoje já são processadas 35
toneladas/dia na nossa planta frigorífica, além de 7 toneladas em outra planta
que adquirimos recentemente. Até o fim de 2022 vamos chegar a 50 toneladas de
tilápia abatida por dia, com isso vamos chegar entre os seis maiores do Brasil
em termos de volume”, adianta Ramon em entrevista exclusiva ao Jornal O
Presente Rural.
Em 24 de
fevereiro de 2007, a família Amaral iniciou seu projeto na piscicultura ao
colocar os primeiros peixes nas águas do Rio Paraná. A família Amaral trabalha
com o ciclo completo da cadeia produtiva, que envolve reprodução, alevinagem,
engorda, fábrica de ração, frigorífico e logística de entrega aos clientes. “No
Brasil tenho certeza que somos a única empresa que atua com este modelo de
negócio. No mundo, quando se trata de tilápia, desconheço algum outro produtor
que trabalhe com todos os elos da cadeia. O que temos conhecimento são
industrias que têm a piscicultura, mas não têm uma fábrica de ração ou a
alevinagem. Este modelo de negócio totalmente verticalizado, desde a reprodução
até a logística, não temos conhecimento que seja realizado em algum outro lugar
do mundo”, afirma Ramon, nitidamente orgulhoso.
Com o sistema
verticalizado de produção de tilápia, a família detém o controle sobre todos os
estágios de produção, minimizando riscos como a entrada de doenças no plantel.
“Nós queremos ser exemplo naquilo que nos propomos a fazer. Nosso principal
objetivo é entregar um produto que podemos garantir às pessoas confiança no que
estão colocando à mesa. Como fazemos todo o ciclo conseguimos mitigar as
possibilidades de interferência na qualidade do produto. Nossa ideia é nos
diferenciar e inovar daquilo que já existe no mercado”, salienta o
sócio-proprietário do Grupo Ambar Amaral.
Por conta da ruptura no
fornecimento de peixes, pela inconstância na conversão alimentar e no número
alto de animais descartados no frigorífico, há cerca de sete anos Ramon optou
pela compra de matrizes para reprodução em sua própria propriedade. “Percebemos
que não tinha constância tanto de entrega como de qualidade do produto que
recebíamos, foi quando o grupo foi se estruturando para fazer diferente daquilo
que já era feito no mercado. Compramos matrizes e passamos a realizar a
reprodução própria”, menciona Ramon.
Para avançar na
genética, está sendo construído uma unidade exclusiva ao melhoramento genético,
que contará com zootecnistas e profissionais da Embrapa e da Universidade
Estadual Paulista (Unesp) trabalhando em conjunto. “Nos próximos dez anos vamos
focar bastante em melhoramento genético, primeiramente do nosso plantel e
depois para disponibilizar esse material para o mercado com conversão
alimentar, desempenho zootécnico e rendimento de carcaça”, enaltece o
empresário.
Conforme o
produtor paulista, por enquanto o que é realizado na propriedade é a reprodução
de animas por fenótipo. “Temos mais de uma procedência de genética que fazemos
o cruzamento. Mais tarde, com nossa unidade de genética, vamos investir na
criação de um plantel próprio”, expõe.
Com o objetivo
de melhorar o desempenho zootécnico da tilápia, o piscicultor paulista conta
que há alguns anos transformou uma das unidades de reprodução em Unidade
Experimental. No local são feitos experimentos quando há mudanças na fórmula de
ração, manejo ou vacinação. “É um laboratório para tomada de decisões da
fábrica de ração e que traz grandes benefícios para toda cadeia produtiva. Sem
essa Unidade Experimental muita coisa não teria efetividade na mudança de
manejo, de fórmula de ração ou na utilização de uma vacina. Neste local tudo é
analisado para depois ser replicado nas demais unidades”, pontua Ramon.
Na propriedade
é realizado o ciclo completo de produção. Todo o processo começa com as
matrizes de tilápia que produzem os ovos, que são coletados todas as
segundas-feiras e levados ao laboratório parar gerar os alevinos.
Na etapa
seguinte, os alevinos são colocados em tanques escavados, onde ficam até que
alcançam a forma juvenil, quando são transferidos para os tanques-rede no Rio
Paraná, com capacidade aproximada de 60 mil metros cúbicos, local que
permanecem até atingiram 950 gramas, peso ideal para o abate. Atualmente
são produzidos 1,2 milhão de tilápias por mês. São 45 mil metros cúbicos de
lâmina de água com os tanques escavados. Com a nova unidade, que está prevista
a conclusão da primeira etapa em outubro e a segunda em maio de 2023, esse
potencial vai aumentar para 150 mil metros cúbicos de lâmina de água para
criação de alevinos. “Com a nova unidade pronta, serão produzidos cerca de
cinco milhões de juvenis por mês”, antecipa Ramon.
A Brazilian
Fish possui quatro unidades próprias e conta há três anos com três parceiros
integrados. “A responsabilidade dos produtores integrados é com a estrutura
física, mão de obra, energia e combustível, os outros 85% do custo de produção,
que envolve ração, alevinos, medicamentos, insumos, software e assistência
técnica é fornecido pela Brazilian Fish. Tudo que eles produzem é encaminhado
para a nossa planta frigorífica. Estamos indo para o terceiro ano com esse modelo
de negócio e de tão certo que está dando pretendemos ampliar e integrar novos
parceiros dentro desta estrutura de criação de peixes” adianta Ramon.
No ciclo
completo de produção são empregados em torno de 800 funcionários.
Para manter o
sistema de criação de peixes sustentável do ponto de vista financeiro,
sanitário e ambiental é essencial manter um programa de biosseguridade, com
medidas que permitem o controle da circulação de patógenos, fator que pode
ameaçar seriamente o desempenho produtivo. “Quando se trata de medidas
sanitárias nunca o que fazemos é o suficiente. Estamos sempre em alerta e
buscamos junto aos laboratórios de vacinas autógenas o desenvolvimento de novos
imunizantes para poder mitigar esses desafios sanitários. É preciso sempre
estar atento”, afirma Ramon.
Na propriedade são adotadas práticas
que incluem programa de vacinação, adequação das densidades de cultivo,
realização de diagnósticos preventivos, limpeza e desinfecção de estruturas,
manejo de qualidade da água e uso de ração de excelente qualidade. De acordo
com o produtor paulista, ao atingiram dez gramas as tilápias são 100%
vacinadas.
Ao final de todo ciclo os tanques
escavados são limpados e com os resíduos é feito adubo, enquanto nos
tanques-rede a higienização das gaiolas, a conferência de tela, de bombona e da
estrutura física é realizada a cada 60 a 75 dias, período em que os animais
mudam de um manejo de dispensa para um manejo de classificação.
É feito mensalmente análise da água por
um instituto terceirizado, assim como são enviados animais para serem
analisados seus índices zootécnicos ao laboratório da empresa que fornece as
vacinas.
Em relação aos animais que morrem na
propriedade é feito a compostagem, em seguida o material é transformado em
adubo orgânico, sendo parte doada para viveiros municipais da região Noroeste
paulista e outra parte usada no plantio de árvores na propriedade.
Apenas dois anos após darem início à piscicultura, a família ampliou seus negócios para a área de alimentação de peixes, construindo a Raguife Rações, nome em homenagem aos três irmãos-sócios Ramon, Guilherme e Felipe. “A nutrição no Brasil sempre foi e continua sendo ainda o maior custo na piscicultura, representando mais de 60% do custo. Nós percebíamos que não tinha uma constância na qualidade do fornecimento. Hoje fabricamos toda a ração que usamos na criação das tilápias”, aponta Ramon.
Em uma área de 20 mil m² são produzidas
mais de 400 toneladas por dia para atender o setor da piscicultura nacional,
sendo apenas 10% destinado à produção própria de tilápias.
Conforme Ramon, a maior parte da
matéria-prima para fazer a ração vem do Mato Grosso do Sul, incluindo milho e
soja. Na composição ainda é utilizado farinha de sangue, farinha de vísceras,
farinha de peixe, aminoácidos e micronutrientes.
Toda a produção é destinada para abate
em frigorífico próprio. Na graxaria são processados todos os resíduos
provenientes do processamento para produção de farinhas e outros subprodutos.
Em torno de 65% da tilápia produzida
pela família Amaral é comercializada dentro de São Paulo, outros 35% são
enviados para os Estados de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro,
Goiás e à região Nordeste. “Hoje nossos produtos são encontrados praticamente
em todo Brasil, porque têm alguns players, como a Seara, que embalamos o
produto e eles distribuem em todas as suas unidades”, relata Ramon.
Os produtos da família Amaral já
atravessaram a fronteira, ingressando no mercado internacional com a exportação
de pele e escama para o Japão, Taiwan e China, além de filé e da tilápia
inteira congelada para os Estados Unidos. Ainda com um volume pequeno de
embarques, Ramon diz que a política cambial gera insegurança para ampliar as exportações,
porque como exporta um volume pequeno uma mudança no câmbio acaba
inviabilizando a operação.
O foco está no mercado interno.
“Estamos buscando aproveitar ao máximo a proteína que nós temos, que é um
produto de qualidade, para se tornar acessível a todas as classes sociais do
Brasil”, salienta.
Fonte: O Presente Rural
Jorge Meneses - Biólogo - (11)998116744 - vivo e whatsapp
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