Qualidade da água
É de fundamental
importância para o sucesso da piscicultura pois é nesse meio que vivem os
peixes.
Portanto, deve-se
evitar grandes alterações de qualidade da água ajustando a
biomassa de peixes
aos limites sustentáveis do ambiente, não estocando mais peixes do que o
ambiente suporta.
Para ter-se uma idéia
do quanto tudo isso pode ser prejudicial, calcula-se que,
para produzir-se 1
tonelada de peixes, são lançados ao meio ambiente através das rações e excrementos
20 kg de P (Fósforo) e 75 kg de N (Nitrogênio), elementos que favorecerão à proliferação
de algas (organismos que, em grandes quantidades, poderão causar problemas
como a eutrofização e
falta de oxigênio, ocasionando doenças ou mortalidade dos peixes).
Outro dado
interessante é que próximo ao fundo dos viveiros os níveis de oxigênio atingem
somente de 0 a 1,5 miligramas por litro de água ( isso é muito pouco ), além da
presença de diversos gases nocivos, resultantes de processos biológicos que ali
ocorrem ( exemplo : decomposição da matéria orgânica) . As águas superficiais
são mais ricas pois estão em contato direto com o ar atmosférico e é onde se
estabelecem as algas ( vegetais que produzem oxigênio através da fotossíntese
).
Conhecer e entender
as características dos ambientes aquáticos é fundamental para o sucesso na
piscicultura.
As características (
parâmetros ) da água essências para o cultivo de peixes que deverão ser
monitoradas frequentemente são :
Características
Físicas :
temperatura e turbidez
Características
Químicas :
pH, oxigênio dissolvido, CO2, alcalinidade, dureza, amônia, nitrito e nitrato
Características
Biológicas:
plâncton
Temperatura :
- Afeta parâmetros
físico-químicos
Exemplo :solubilidade
do oxigênio e toxicidade da amônia
- Influi na taxa de
processos bioquímicos
Exemplo : a cada
aumento de 10 graus , duplica-se a velocidade das reações bioquímicas
- A água tem alto
calor específico, isto significa que retém o calor.
- A temperatura da
água segue a temperatura do ar mas sempre com um intervalo ( esfria e aquece
mais lentamente )
- A densidade da água
depende da temperatura ( quando aumenta a temperatura, diminui a densidade)
- A maioria dos
peixes prefere temperaturas entre 25 e 30 graus Celsius para ótimo crescimento.
- O ideal é que
saiba-se qual é a variação da temperatura da água ao longo do ano para a escolha
da espécie mais indicada.. Se isso não for possível a curto prazo, pode-se
pesquisar junto a outras pisciculturas ou até mesmo junto a pesque-pagues da
região.
- A temperatura da
água possui um efeito direto sobre o consumo de alimento e atividade metabólica
dos peixes.
- O metabolismo dos
peixes aumenta com o aumento da temperatura (dentro dos limites toleráveis) e
diminui com o declínio da temperatura pois os peixes são animais pecilotérmicos
( a temperatura do
corpo varia em função da temperatura da água )
- Choque térmico : é
quando há diferenças de mais de 3 graus Celsius na água.
Estratificação
- Ocorre quando a
diferença entre a temperatura da camada de água superficial e a do fundo é de
tal ordem que impede sua mistura.
- Em tanques fundos (
maiores que 3 metros ) é muito perigosa a estratificação se ocorrer inversão
térmica , isto é, a camada de cima “descer”pois é mais pesada e a do fundo
“subir” carregando gases prejudiciais, o que intoxicará os peixes e outros
organismos aquáticos.
Turbidez :
- Causada pelo
plâncton e/ou argila/silte em suspensão ( exemplo : quando chove )
- A turbidez
atrapalha a entrada de luz na água e portanto, atrapalha a fotossíntese.
pH ( Potencial
Hidrogeniônico)
- Mede a proporção
entre as concentrações de ions hidrogênio ( H+) e ions oxidrila ( OH-)
Varia de 0 a 14
Ideal : 6,5 - 8,0
- Os peixes são muito
sensíveis a mudanças bruscas de pH ( choque de pH ) - Os viveiros apresentam
variação diuturna de pH devido à fotossíntese e a respiração dos seres vivos fazendo
variar a concentração de CO2, que possui uma reação ácida na água-
Portanto, à noite o
pH tende a ser ácido
-De dia, tende para o
básico pois o CO2 está sendo consumido pelo fitoplâncton através da fotossíntese.
Alcalinidade Total
- Indica a
concentração de sais de Carbonato e Bicarbonato na água
- Possui função de
tamponamento , isto é, mantém o pH estável.
- Os carbonatos e
outros sais reagem com o ácido carbônico e neutralizam sua ação.
- Em águas naturais a
alcalinidade varia entre 5 e 500 mg de CaCo3 ( Carbonato de Cálcio) por litro
de água.
- Se alcalinidade for
menor que 20 miligramas de CaCo3/litro, dizemos que a alcalinidade é baixa .
Nesse caso, haverá uma resposta ruim quando o piscicultor proceder à adubação
e/ou fertilização pois o solo normalmente é ácido
-Se for maior que 20,
a alcalinidade é satisfatória
- O solo é o fator
que mais influencia na alcalinidade da água
- Solos pobres tendem
a ter baixas alcalinidades
- Solos influenciados
por rochas calcáreas possuem alcalinidade alta
- Águas menos
alcalinas tendem a ficar turvas mais facilmente e por longos períodos
Dureza
- Indica a
concentração de íons Cálcio e Magnésio presentes na água
- Os peixes absorvem
esses elementos para suprir deficiências nutricionais.
- Ca e Mg também são
importantes para o tamponamento da água.
Ideal : acima de 20
miligramas por litro.
- Para efetuar-se a
correção do ph, alcalinidade ou dureza , faz-se a CALAGEM :
Utilizam-se os
seguintes produtos :
1- Calcário
dolomítico ou agrícola ( CaCo3) :
Lenta reação na água
; pode ser aplicado com o viveiro cheio.
2 - Cal hidratada ou
de construção ( CaMg(OH)4)
Rápida solubilidade
na água ; evitar aplicar com viveiro cheio
Aplicar em viveiro
vazio para correção do pH e prevenção de doenças
3 – Cal virgem (
CaMgO2) :
Ação rápida e
cáustica ; deve ser aplicada e manuseada com cuidado em viveiro vazio .
Função idem ao item
2.
A quantidade varia
conforme o índice de pH no momento da aplicação.
Oxigênio dissolvido
- No ar atmosférico a
quantidade de oxigênio é de aproximadamente 210 miligramas por litro .
( trata-se de uma
concentração alta )
- Na água doce essa
taxa raramente ultrapassa 10 miligramas / litro
- O teor de oxigênio
varia com a temperatura da água e a altitude do local
- Quanto mais baixa a
temperatura, maior a quantidade de oxigênio dissolvido na água ( por isso os
cultivos de trutas são em regiões de águas frias pois é nelas em que há altos
teores de oxigênio dissolvido, exigência desses peixes).
- A falta de oxigênio
dissolvido (OD) pode ser identificada por sinais:
1- Exalação de mau
cheiro ( formação de gases tóxicos pela decomposição da matéria orgânica )
2- Comportamento dos
peixes próximos à superfície , indiferentes ao alimento e à presença de pessoas
3- Peixes na
superfície abrindo e fechando a boca tentando “engolir ar”
- Em caso de falta de
OD , deve-se suspender imediatamente a alimentação, renovar a água do viveiro ,
e ligar o aerador.
SBOD (Síndrome do
Baixo Oxigênio Dissolvido - OD)
Envolve :
-baixa concentração
de O.D.
-alto CO2 livre
-baixo pH
-alto nitrito
-outros
- A solubilidade do
oxigênio na água tem uma relaçäo inversa com a temperatura e salinidade. (
águas quentes, pouco OD, águas frias, muito OD )
- Oxigênio na água
provém da :
- Fotossíntese (90 %)
-Difusäo do ar (
contato ar/água)
-Entrada de água
- Aeradores são
equipamentos que podem ser utilizados e que aumentam significativamente o
oxigênio dissolvido na água que em quantidades adequadas, promove um melhor
conforto e crescimento para os peixes.
- A maioria das
mortalidades de peixes, focos de doenças, baixo crescimento,
ineficiente conversäo
alimentar e problemas similares no manejo estäo diretamente relacionados com a qualidade da água,
especialmente SBOD
- Viveiros de terra e
lagos ricos em nutrientes säo ricos em oxigênio de dia e pobres ao amanhecer,
porém há fatores que podem alterar esses padrões:
1- OVERTURN :
inversäo das camadas de estratificaçäo que pode ser causada
por ventos e chuvas
intensas (mistura da água de má qualidade do fundo com a água de boa qualidade
da superfície.
OBS. Períodos excepcionalmente
frios também podem causar OVERTURN.
2- DIE-OFF :
mortalidade repentina do plâncton.
OBS : As causas do
DIE-OFF näo säo totalmente conhecidas. Essa mortalidade do plâncton näo é
previsível mas ocorre com maior freqüência quando espuma de cor verde forma-se
na superfície da água ou quando a transparência é de 15 centímetros.
* Um sinal de que
ocorreu DIE-OFF é o rápido clareamento da água em poucas
horas.
* A visibilidade
aumenta de duas a várias vezes seguida de mudança na
coloraçäo da água de
verde para marron, com faixas pretas.
* Essa situaçäo é
acompanhada de odor característico.
* Para sanar o
problema faz-se a aeraçäo emergencial por até 2-3 dias
3- PERÍODOS DE 2
OU MAIS DIAS COM POUCA INCIDÊNCIA DE LUZ SOLAR
(Nublados) TAMBÉM
SÃO PERIGOSOS
* Qualquer dessas
adversidades acia citadas causa níveis de oxigênio mais baixos que o normal por
um ou vários dias.
* Se isso ocorrer no
verão pode haver mortalidade parcial ou total de peixes ou, no mínimo, doenças.
* Solução : suspender
alimentação e usar aeração emergencial.
VISIBILIDADE DA ÁGUA
- Um sinal de que a
água do viveiro é de boa qualidade é a transparência entre 30 e 50 centímetros.
Neste caso a água tem cor esverdeada e sem espuma.
Disco de Secchi
- É um equipamento que
mede a transparência .
- Permite ter-se uma
idéia da produção primária e do grau de eutrofização da água
- Trata-se de uma
peça em forma de disco que possui em torno de 20 centímetros de diâmetro
- Pode ser fabricado
com madeira, plástico, acrílico, etc...
- É dividido em 4
faixas pretas e brancas intercaladas
- Na parte posterior
da pintura coloca-se um peso ( chumbo ou pedra ) para que o disco afunde.
- Amarra-se uma fita
métrica e afunda-se devagar o disco na água até onde conseguir visualizar as
faixas pretas/brancas. Então verifica-se quantos centímetros ele afundou.
- Essa é a
transparência cujo ideal é que atinja entre 30 e 50 centímetros.
Gás Carbônico ( CO2)
- Essencial à vida
aquática em pequenas quantidades pois participa diretamente da fotossíntese.
- Em altas
concentrações é muito perigoso
Amônia
- Resultado
principalmente da excreção direta através das brânquias dos peixes e também origina-se
das fezes, adubos nitrogenados e alimento não consumido.
- Na água está sob 2
formas :
1 - ionizada : NH4 :
muito pouco tóxica
2 – não ionizada :
NH3 : tóxica , que aumenta com o aumento do pH e aumento da temperatura.
- Se a amônia estiver
acima de 0,2 miligramas/litro, o crescimento dos peixes é prejudicado
- Se a concentração
de amônia estiver entre 0,7 e 2,4 miligramas / litro = pode ser letal aos peixes,
principalmente se o pH estiver elevado.
- Com o aumento da
concentração de amônia na água os peixes passam a ter dificuldades na sua
excreção aumentando os níveis dessa substância no sangue e tecidos. Esse fato aumenta
o pH do sangue
- Há efeitos adversos
sobre reações bioquímicas catalizadas por enzimas e permeabilidade das
membranas.
- Isso aumenta o
consumo de oxigênio pelos tecidos, danifica as guelras, diminui as trocas gasosas
no sangue e causa efeitos deletérios no fígado, rins e tireóide.
- Para diminuir o
nível de amônia nos viveiros , deve-se proceder à renovação da água
-Naturalmente a
amônia transforma-se em Nitrito ( menos tóxica) pela oxidação efetuada pelas
bactérias do gênero Nitrossomonas .
- O Nitrito também é
considerado tóxico. Sua concentração aumenta em temperaturas inferiores a 25
graus Celsius pois as bactérias que transformam o Nitrito em Nitrato diminuem sua
atividade nessas temperaturas.
- Em altas
quantidades na água, o Nitrito é absorvido através das brânquias.
No sangue liga-se à
hemoglobina e forma a meta-hemoglobina ( cor marrom ) que não é capaz de
transportar oxigênio.
Sinais : peixes
boquejando mesmo com altos teores de oxigênio dissolvido na água. O sangue do
peixe fica com cor de chocolate.
O que fazer :
- renovar água ou
aplicar sal pois assim evita-se que o peixe absorva nitrito ( o íon cloreto compete
com o nitrito na absorção do peixe )
- O Nitrito
transforma-se em Nitrato ( não tóxico ) pela oxidação efetuada pelas bactérias
do gênero Nitrobacter
- O Nitrato é
transformado em Nitrogênio através das bactérias desnitrificantes, completando-se
o ciclo.
EUTROFIZAÇÃO
- É o enriquecimento
em nutrientes na água de lagos, viveiros, açudes ou reservatórios, oriundos de
restos de ração e excrementos de peixes.
- Uma eutrofização
excessiva promove um grande desenvolvimento de fitoplâncton e plantas
aquáticas.
- Esse fator pode
causar oscilações e problemas na qualidade da água
- Níveis baixos de
oxigênio dissolvido à noite (muitos organismos respirando).
- Risco de morte
súbita do fitoplâncton (DIE-OFF).
- Altos valores de pH
à tarde, o que aumenta a toxidez da amônia ou prejudica a excreção de amônia
pelos peixes (auto-intoxicação).
- Mistura de camadas
de fundo com as de superfície (OVERTURN) e inversão
térmica que pode
causar uma repentina redução no oxigênio dissolvido e
aumento na
concentração de substâncias nocivas ( gás carbônico, amônia,
nitrato, gás metano,
gás sulfídrico, etc.).
Contato : ( 11 ) 998116744
( vivo e whatsapp )
Jorge Meneses - Biólogo.
Consultoria para pisciculturas e pesqueiros.
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